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Entendi que o teu vagar é uma procura diária de amor

  • Teresa Pêgo
  • 25 de out. de 2018
  • 2 min de leitura

Hoje decidi. Quis compreender o que era a tua vida. E assim, pus-me a jeito, tal e qual como tu. Era preciso um ritual. E, acima de tudo tempo. Um tempo para me predispôr a escutar, deixando o meu corpo escorregar, tal como o teu, naquele planalto de algodão inundado pelo sol matinal. Por baixo de mim, aquela textura morna e fofa a envolver-me cada milímetro de corpo a entregar-se. Sim, porque era necessário uma espécie de relaxamento, que não é nem entorpecimento nem verdadeiramente preguiça, mas um estado de leveza atenta, sem expectativa. Em primeiro plano, o odor perfumado dos lençóis e o cheiro da casa que ia e vinha quando aquela brisa, ainda tépida, de final de outono me afagava os cabelos perdidos pela cama. Havia depois uma busca morosa do posicionamento da cabeça, de uma mão ou de uma perna que se ia estendendo à procura do último vestígio de sol a entrar pela janela. Ao longe, os ruídos do mundo e a tua aparente indiferença. Procurei o silêncio para ir absorvendo as histórias sonoras que se esgueiravam por entre as portadas brancas entreabertas. Nem um só músculo do teu corpo se movia às investidas insistentes dos sinos da igreja das redondezas, nem mesmo com o ranger contínuo e ritmado das cordas onde dançava a roupa acabada de lavar. Aprendi contigo a entreabrir os olhos languidamente e espreitar o voo contemplativo das gaivotas. Acima de tudo, compreendi essa curiosidade quotidiana que te move a cada minuto pelo detalhe que habita num canto de uma casa, mesmo que seja aparentemente igual ao do dia anterior, acabando-me sempre por mostrar uma perspectiva de um olhar diferente.

Hoje entendi que o teu vagar é uma procura diária do amor.

 
 
 

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