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Agora que já são adultos, quantas vezes olham para o céu?

Lançou a pergunta no meio de um turbilhão de ideias. Apercebera-se de que precisava de respirar porque toda aquela informação e partilha o estava a absorver, a coagi-lo a uma curvatura do corpo que não lhe permitia erguer os seus olhos àquele infinito azulado. Na sua infância, dedicava muito tempo à observação daquele algo que era intocável, que era povoado por formações de nuvens em constante metamorfose a deixar adivinhar sempre alguma interpretação, baseada nas suas experiências de vida. E esse tempo, para ele, não era de todo perdido. Era tempo que ganhava para a exploração criativa, para um abraço que nunca lhe deixava aquela sensação de solidão que agora aparecia sem convite. Ele sorria expectante.


Pretendia compreender se, de entre os elementos que se encontravam naquele espaço virtual, haveria alguém que ganhasse tempo a explorar o mistério celeste. Talvez também o tivesse feito para os aproximar, para os abraçar um pouco, já que cada um se encontrava longe fisicamente e talvez precisassem de desviar o seu olhar do distúrbio emocional que poderiam estar a sentir por estar num momento que os obrigava a estar sós. E também pensava por que razão tinha perdido um pouco esse sentimento de espanto, essa pausa tão necessária à contemplação de uma maravilha que se estendia ali sem fim à vista e que não tinha perfume, mas tinha uma cor e por vezes uma forma, ou várias. Se calhar, a interrogação era mesmo essa: quanto tempo passava cada um deles por dia num exercício livre de observação sem fazer absolutamente mais nada?


Ele não achava que isso fosse somente trabalho de poetas ou dos que habitam nos mundos das impossibilidades possíveis. Considerava que isso poderia ser feito por qualquer pessoa que estivesse disponível para se deixar tocar pela brisa do instante.





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