top of page

A Transformação - A ponte para outra margem

  • Foto do escritor: tmpego
    tmpego
  • 27 de fev. de 2021
  • 6 min de leitura

Há experiências que nos mudam, que nos fazem redesenhar as telas que pensávamos estar terminadas. Por vezes escolhemos essas vivências, outras vezes são elas que nos escolhem.


Quando me deparei com a resistência de alguns formandos às atividades propostas, há uns anos, soube que a metodologia pedagógica que estava a usar, provavelmente, não seria a mais adequada. Neste caso, por exemplo, esta experiência escolheu-me e eu tive a necessidade de me adaptar, de me reinventar. Tal como contei anteriormente, pus-me à escuta, procurei ouvir os interesses deles, interliguei essas mesmas vontades com os conteúdos dos referenciais e, assim, se ia fazendo caminho.


De qualquer forma, considerei que eu própria poderia investir em formação que trabalhasse o desenvolvimento pessoal. E, por esse motivo, fui procurar o que existia em Portugal. Uma amiga falou-me em Coaching. Enveredar pela área do desenvolvimento pessoal, do autoconhecimento, da consciencialização é um desafio contínuo que implica um esforço individual grande, um tempo que permite o estudo dos hábitos, comportamentos, pensamentos, relacionamentos, por forma a compreender de onde poderão advir os “ruídos” que nos podem distrair do caminho que pretendemos realizar. Ao traçar este mapa que desejava conhecer melhor, uma nova linha vital também se foi desenhando, não sendo, de todo, uma linha plana, mas uma linha com sinuosidades e onde de vez em quando surgem veias a serpentear para outras experiências. Cabe a mim perceber se pretendo ou não seguir por elas ou se, por outro lado, pretendo manter-me nesta estrada, sem qualquer tipo de viagem extra.


E foi ao traçar este mapa que, conscientemente, decidi percorrer determinadas veias. O Caminho de Santiago foi uma delas, uma veia escolhida por mim, que me testa, questiona, abre portas inesperadas, que faz escutar profundamente o corpo e cuidar dele diariamente para poder olhar, de forma mais atenta, para as paisagens existentes, como a natural e a humana. De alguma maneira, tem sido um treino para criar estratégias que ajudam a contornar obstáculos para chegar onde almejo. Talvez seja, de alguma maneira, o meu Coach, apesar de ser algo imaterial, num todo que percorro e experiencio.


E como aplicar na vida diária?


Uma vez uma amiga, aquando de um almoço à beira de uma janela de estilo minhoto sobre os verdes viçosos de um norte perfumado, perguntou-me para que servia este curso de Coaching que estava a realizar, porque ela dizia que tudo o que lhe contava sobre o autoconhecimento individual era interessante, mas ela sentia necessidade de compreender a aplicabilidade daquela teoria que parecia tão fascinante (dizia ela que “era muito da prática”).


A minha explicação foi no sentido de que este curso servia para fazer uma autoanálise (se assim a pessoa o quisesse) por forma a conseguir chegar, de uma maneira mais consciente e focada, aos seus objetivos. Expliquei também que a vida é uma constante construção diária, em que a pessoa vai recolhendo diversas vivências, sementes que irão, depois, germinar dentro de si para dar lugar a novas formas de estar. Apesar de termos uma identidade única e irrepetível, apesar de termos um feitio mais ou menos delineado, podemos reprogramar-nos diariamente consoante as vivências que vamos tendo. Serve para potenciar atitudes mais positivas, auxilia numa postura mais autorreflexiva e numa atitude de silêncio perante aquilo que não interessa. Contribui para o crescimento de pensamentos salutares e de ações verdadeiramente inspiradoras para os próprios e para os outros que os rodeiam. O sorriso que esboçou sempre me deixou na dúvida relativamente à compreensão do que lhe dissera. Acredito que tenha percebido, mas também percebo que a sociedade, competitiva e extremamente rápida em que nos encontramos inseridos, não proporciona o tempo para o encontro connosco e com o outro (de forma presente e consciente), fazendo-nos questionar o nosso passado, o presente e o futuro. Frequentemente, neste contexto social, essas questões não são valorizadas, diria mesmo que até são menosprezadas e julgadas por muitos. A questão é cada um perceber que caminho quer seguir e, posteriormente, agir em conformidade.


E na educação?


Depois de algumas experiências vivenciadas, da formação em Coaching, depois de ter realizado várias rotas pedestres, sendo a principal o Caminho de Santiago, comecei a questionar, por exemplo, o sistema educativo, a maneira obsoleta como estava estruturado. E porquê? Porque com a formação, e mesmo com esse ato de caminhar na natureza, me comecei a interrogar sobre os meus valores, os meus interesses, o caminho que pretendia seguir, o meu contributo para comigo e para com o todo. De facto, e numa sociedade com cada vez mais estímulos externos que podem desviar a atenção dos mais jovens, a tarefa de educar e motivar é, cada vez mais, um desafio maior para as equipas escolares. Tendo em conta os vários fatores externos que acabam por desfavorecer uma educação mais harmoniosa (o aumento do número de alunos por turma, a instabilidade de cada profissional de educação, a falta de apoio ao aluno por parte da família, a utilização inapropriada das novas tecnologias, o bombardeamento de informação descontrolada por parte dos média, entre outras), é sempre uma peleja contínua as equipas escolares conseguirem manter sempre o nível de entusiasmo. De notar que o conceito de equipa escolar alberga não só os professores como os diretores e também os auxiliares de educação que fazem parte deste contexto. Todos estes profissionais formam um todo, ou seja, uma equipa, comunidade, trabalhando de forma interligada. O Coaching pode ajudar as equipas escolares, se as pessoas assim o desejarem. Ao se ajudarem a si próprias, as pessoas vão conseguir atingir os seus objetivos, sentindo-se realizadas, pelo que isto se vai repercutir positivamente junto de outras pessoas que as rodeiam. Por exemplo, um professor, que esteja consciente daquilo que pretende melhorar e atingir e que age com todas as suas ferramentas para chegar aos seus fins, vai obviamente transformar-se num profissional mais realizado, pelo que isso se vai refletir, posteriormente, no contexto onde trabalha e nas pessoas que o envolvem, neste caso os seus colegas, psicólogos, os auxiliares, que habitam o contexto escolar e, mais importante de tudo, os alunos que sentirão o entusiasmo do professor realizado e bem consigo próprio.


A partir do momento em que se tem a autoconsciência mais nítida, pode-se transformar os sonhos e as ideias em ações e trabalhar nelas para sentir que se está a cumprir verdadeiramente. Nesta vontade de alcançar estas atitudes positivas, há um trabalho interior que cada pessoa empreenderá: um trabalho árduo, quotidiano, exigindo de cada pessoa consciência, reflexão, disciplina, perseverança e, acima de tudo, amor próprio. Claro está que nós não estamos sós no mundo e na sociedade e precisamos de trabalhar, quase diariamente, com outras pessoas e isso não é obviamente uma tarefa fácil, mas é algo possível com as atitudes adequadas, um burilar interno que implica um rompimento com velhos paradigmas e o abraçar de um trilho mais coerente com a sua maneira de ser.


Aquando desta formação em Coaching, fiz um inquérito a vários colegas da área da educação precisamente sobre as sessões de Coaching que tinham realizado, procurando saber quais as vantagens e a utilidade das mesmas. A maior parte dos colegas referiu a utilidade destas sessões, nomeadamente a nível da consciencialização de determinadas atitudes, do aumento do autoconhecimento, gerando sentimentos de uma maior autoconfiança, promovendo também um clima relacional muito mais interessante e vantajoso. Referenciaram que é importante haver um equilíbrio noutras áreas de vida para que tudo o resto, e especialmente a parte profissional, possa desenvolver-se de forma apropriada, sendo crucial uma postura constante de autoquestionamento, no sentido de se querer aperfeiçoar enquanto pessoa e profissional. Para além de tudo isto, auxilia na gestão pessoal de prioridades, ajudando a organizar melhor as ideias e, consequentemente, atitudes, favorecendo ainda a focalização em objetivos mais concretos, encurtando o pensamento divergente quando ele não é benéfico. Acima de tudo, muitos disseram que é bom apostar no desenvolvimento pessoal para haver uma verdadeira transformação, pois tendo conhecimento de si próprio, a pessoa pode aperfeiçoar-se e focar-se nas suas metas, procurando posteriormente ajudar os outros.


Considero ser muito importante vivenciar aquilo por que sentimos apelo, aquilo que nos chama, e banharmo-nos nessas águas até acharmos suficiente. De várias experiências referidas aqui neste blogue, todas elas têm sido profundamente transformadoras e com fortes implicações nos meus gestos diários (e quando falo em gestos pretendo dizer: hábitos, comportamentos, pensamentos, formas de ação). Creio que este mergulho interior quotidiano é uma das formas da pessoa se encontrar enquanto ser humano para depois chegar aos outros. Pode implicar algum sofrimento, alguns processos de luto de vivências passadas. Depois de se caminhar no sentido da aceitação, da aprendizagem com as experiências promotoras de algum desconforto, depois desta morosa peleja, é mais fecunda a busca de um outro trilho no sentido ascendente. Libera-se do ruído para se chegar ao silêncio interior e à felicidade de ser.

 
 
 

コメント


bottom of page