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A valorização da arte, da emoção e do lúdico como formas de aprendizagem significativa

  • Foto do escritor: tmpego
    tmpego
  • 18 de jan. de 2021
  • 3 min de leitura

A pessoa que criou o conceito de educação pela arte foi Herbert Read, no século XX, considerando a arte como base da educação. Esta acabava por ser uma forma de promoção do desenvolvimento da aprendizagem criativa, na liberdade de expressão do sentir e do pensar, no prazer de aprender e de experimentar caminhos diversos e alternativos.

Comecei a educação pela arte, usando o livro “Fernão Capelo Gaivota” porque aquela gaivota fazia-me lembrar muitas pessoas com as quais me cruzava nos corredores da educação. Só que muitas das vezes, estas não se apercebiam do valor que tinham, pois tinham decidido ir ao encontro do que ainda não estava acabado, ou seja, daqueles sonhos passados que ainda não tinham sido apagados, talvez esquecidos numa gaveta. Fernão Capelo Gaivota queria ir para além do voo da subsistência, queria recriá-lo e pretendia experimentar novas formas de o fazer. Richard Bach, autor e antigo piloto de reserva da Força Aérea norte-americana, escreveu este livro em 1970 e, em 1973, o mesmo foi adaptado para cinema por Hall Bartlett.

Os alunos liam excertos do livro, refletiam e ouviam Neil Diamond na versão cinematográfica do livro. Apesar de já ter alguns anos, considero ser um livro de referência e que, de alguma maneira, traz cor à vida de pessoas que desistiram da escola e que agora decidiram regressar. Fá-las valorizar os seus passados e os seus presentes.

Na verdade, penso que a escuta do outro foi fundamental ao longo de todo este caminho enquanto formadora ou facilitadora de caminhos (talvez prefira este cognome). Como não havia material, tive a necessidade de criar, baseando-me nos referenciais que havia do Ministério da Educação e no conhecimento que tinha, para além das sugestões que ia recebendo de cada participante. Comecei esta atividade em 2001, depois de alguns anos em escolas públicas, e, desde aí, procurava sempre perceber quando seria possível despentear espaços com arte e valorizar os conhecimentos dos formandos/alunos/participantes.

Vamos despentear espaços?

Uma manhã, enquanto tomava um carioca de limão com a minha mãe num café, olhei para aquela disposição das cadeiras e para os rostos dos clientes, escondidos nos jornais, e pus-me a pensar qual seria o impacto de uma reorganização daquele espaço que convidasse o cliente a sentar-se de outra forma e em círculo, disponível para uma conversa aberta sobre um tema. E se de repente se fizesse isso num café, numa sala de aula…? Sem dúvida que era uma ideia fantástica, mas carecia de organização antecipada, prevendo todas as necessidades e ajustes devidos. Foi assim que decidi começar a despentear espaços, ou seja, quando as cadeiras se encontravam dispostas em fila, procurava reorganizar com os alunos e transformá-las num círculo, convite à conversa próxima e ao contacto ocular, inibidor talvez de muitas conversas com o teor de agressividade mais elevado. Passo a passo, os espaços iam-se alterando e até mesmos os próprios participantes eram convidados a mudar de lugar para ter outra perspetiva do local onde se encontravam. Depois, havia os espaços abertos para onde iam também em busca de aprendizagem, sim, porque a “poesia estava na rua” e a rua oferecia saber único em cada transeunte que passava, em cada lugar vestido de histórias. Quando se ia para a rua, ali também se despenteava um pouco o espaço, habituado a ser local de passagem unicamente e não lugar de conversa prolongada. E depois disso, regressava-se ao espaço escolar, onde cada um, segundo os seus dons e competências, ia registando o que tinha visto. Construía-se um jornal de turma, com direito a fotografias tiradas pelos alunos, e reservava-se tempo também para criar um blogue, onde os da veia poética libertavam palavras que faziam sonhar.

De vez em quando, organizava seminários e tertúlias, onde cada um tinha sempre um papel escolhido, tendo em conta o que sabiam e gostariam de realizar. E nestas tertúlias, aos poucos, também se foi aprendendo a despentear espaços porque, para além de se estar sentado em fila, também se tinha a oportunidade de preparar uma exposição fotográfica e discursos associados aos temas dos Objetivos Sustentáveis da ONU, de organizar a participação de outras pessoas convidadas que dariam um contributo ao evento, de estar em roda, de se movimentarem numa dança surpresa em que todos eram convidados a esquecerem os papéis que representavam, tornando-se novamente seres humanos a aprender a estar em comunidade, ao sabor da alegria e da música.

E era assim, através da arte que se ia aprendendo, numa valorização das aprendizagens que cada participante ia fazendo ao longo da vida e que, ali, ia demonstrando e partilhando com outros. Através da emoção e do lúdico tornava-se, cada vez mais, a aprendizagem verdadeiramente significativa.

 
 
 

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