top of page

Desenhar e Sentir, imergindo na natureza

  • Foto do escritor: tmpego
    tmpego
  • 7 de jul. de 2022
  • 2 min de leitura

A tarde estava quente. O sol a pique.


No entanto, ali ao lado, havia um bosque encantado e refrescante por onde desaparecemos. Acompanhados pela sabedoria da Marta Ornelas, da Arte Central, e da Paula Loureiro, da Eat Drink & Draw Experience, mergulhávamos no verde ondulante da Serra de Sintra e desaparecíamos para dentro de nós, num inspirar e expirar lento e presente.


Por vezes, parávamos para aguçar ainda mais o corpo, para sentir o que no nosso quotidiano, por vezes, esquecíamos. E depois as mãos vagueavam pelo musgo das rochas, amontoadas em círculos, como se abraçadas, pelas sementes espalhadas no chão, pelas pedras, folhas e os resquícios eram deixados no papel, numa exploração contínua a fazer emergir sensações, emoções.


Caminhávamos sem voz, ouvindo apenas o silêncio do bosque e da nossa interioridade. Os corpos embrenhavam-se por entre arbustos e árvores esguias sem fim à vista e os trilhos desciam, subiam, apresentavam-nos desafios que superávamos juntos.




“Shinrin Yoku”, explicou a Paula, “um termo japonês e criado por japoneses na década de 80, que significava banhos de floresta, ou também apelidada de “silvoterapia”, sendo a prática de “absorver a atmosfera da floresta”, ajudando a limpar a mente de cansaços e stress. Compreendemos que nos banhávamos na floresta, passávamos tempo com as árvores, conversávamos com elas, sentindo os seus galhos, tronco, a sua pele rugosa ou macia, vestida de musgos de verdes diversos. E nessa conversa e escuta profundas, os nossos desafios do quotidiano iam-se desfazendo nas nossas mãos até se perderem no meio da floresta, sem o peso que inicialmente tinham dentro de nós.


Pelos sinuosos trilhos, afastando galhos e flores silvestres, maravilhávamo-nos com o voo suave das mariposas de cores berrantes a pousar no granito dos penedos. Víamos o mar verde dos fetos dançantes e o mar longínquo de águas salgadas a acenar-nos e depois pousámos o olhar nas cabeleiras loucas das árvores, explorando os seus contornos no papel. Os materiais coloridos espalhavam-se pela mesa e surgia vontade de experimentar, depois de Marta Ornelas nos contar histórias sobre o caminhar à deriva, sobre o pensar da arte através do deslocamento.



Tal como na vida, o nosso corpo encontra pisos diversos, trilhos sinuosos, com surpresas inesperadas depois de uma curva cerrada, encontra também descidas e subidas íngremes que nos tornam presentes, inspirando e expirando, criando a nossa música interior, conduzida pela orquestra dos órgãos em total sintonia.


Corpos exaustos recuperavam, depois, no refúgio circular das pedras e das árvores que albergavam sabores doces e salgados, segurando a nossa criatividade que esvoaçava ao sabor da brisa húmida do fim de tarde.


 
 
 

Comments


bottom of page