Experimentar a vida com Segni Mossi
- tmpego
- 31 de ago. de 2020
- 4 min de leitura
Atualizado: 14 de set. de 2020
3 e 4 de junho de 2017, Fórum Dança, Lisboa.
Lisboa espreguiçava-se, azul, quando cheguei de comboio. Numa rua estreita, encontrei o Fórum Dança e soube que estava no lugar certo. Eu não conseguia acreditar que iria conhecer Segni Mossi, um projeto que investigava a interação entre dança e desenho gráfico com crianças e adultos. E lá estava eu. Daí a uns minutos íamos entrar naquele grande ginásio e experimentaríamos toda aquela dinâmica que vimos nos vídeos que Segni Mossi partilhou no seu site e nas redes sociais. Quase sabia de cor algumas músicas ...

Num grande grupo, aprendemos a expressar-nos sem medo, movendo os nossos corpos e as nossas vozes de maneiras que nunca pensámos ser possíveis em público. Mas cada um de nós foi capaz. Um pouco assustador no início. Então, a partir do momento em que a música entrou naquele espaço luminoso e arejado, soltamo-nos e aprendemos a olhar-nos nos olhos, a sentir os nossos gestos e os do outro, aprendemos a conhecer o espaço com os olhos fechados, a mover-nos dentro de um círculo de mãos, braços, respirações e cores.

Nesta experiência, aprendi a reconhecer o meu corpo e a sua capacidade de se mover, e então também aprendi a ser capaz de transmitir isso para o papel. As emoções vividas na pele transpostas para o papel de forma fluida e crua. Era o Yellow Training , uma forma de explorar o prazer de deixar uma marca, trabalhar o espanto e a capacidade de observar as coisas com outro olhar. Havia também outros treinos (com outras cores: Pink, Red...) com cores e experiências diferentes.

Exploramos o grupo no espaço, a força dos caminhos, vagueando pelo espaço na escuridão, dançando a simetria nos nossos corpos e partilhando todas essas novas formas de pensar e experimentar.
Foi no intervalo para nos refrescarmos por dentro e por fora que tive a oportunidade de falar com Alessandro Lumare e Simona Lobefaro, criadores do projeto Segni Mossi.
Teresa Pêgo - Numa frase curta, Segni Mossi é ...
Simona Lobefaro e Alessandro Lumare - Um processo de autoexploração, relacionamento, partilha.
T.P. - Ralph Waldo Emerson disse: "A vida é uma viagem, não um destino." Todos os dias, quando mergulham no vosso trabalho, no vosso projeto, é sempre uma viagem fantástica? O que esperam disso? Quais os vossos objetivos?
S.L e A.L. - O processo é importante, não o objetivo final. Todas as experiências que as pessoas trazem para as oficinas (sejam crianças ou adultos) e toda a partilha e enriquecimento que daí advém é maravilhoso.
T.P. - Acham que as pessoas comuns que não têm nenhuma ligação com as artes têm interesse em participar nestas oficinas? O que acham das suas motivações?
S.L. e A.L. - Existem muitos participantes que não estão diretamente ligados à arte e que têm uma grande curiosidade e motivação. Eles participam nos nossos cursos para viver "simplesmente" uma experiência pessoal enriquecedora, para aprenderem novas maneiras de brincar com os próprios filhos ou de praticar a criatividade e depois utilizá-la de diferentes formas no seu ambiente de trabalho.

T.P. - Em Portugal temos tendência, e mesmo noutros países, de separar as artes. Acreditam na transversalidade? Na fusão de movimento, desenho (mesmo que não seja perfeito, não sendo esse o vosso objetivo), acreditam que há uma viagem para descobrir a cada momento, certo? É sempre o presente, a exploração ...
S.L. e A.L. - Nas oficinas, procuramos desenvolver a capacidade de “estar no momento” o máximo possível, envolvendo cada participante na sessão, ainda que a princípio a dinâmica possa ser um pouco incómoda para alguns. Na Itália existe uma tendência para a separação das artes, como em praticamente todos os países europeus. A ideia de Segni Mossi é apelar à transversalidade das artes, uma vez que podem abraçar-se de forma perfeitamente coerente, trazendo benefícios para a promoção da criatividade, sensibilidade artística, autoconhecimento e bem-estar físico e mental da pessoa que participa.

T.P. - Integram a natureza no vosso trabalho de alguma forma? Existe uma conexão ou querem criar essa ligação entre dança, desenho e realidade / natureza? Ou querem criar, como Arno Stern fez, um “clos-lieu” onde as pessoas podem ser elas mesmas sem se distrair ...? Comunicação interna e externa?
S.L. e A.L. - Essas oficinas foram sempre realizadas em ambientes fechados, em espaços amplos e fechados, onde as pessoas têm todos os recursos para poder criar, não se deixando distrair por elementos externos e olhares indiscretos. Nesta espécie de “clos-lieu” eles podem ser eles próprios sem medo, libertando-se e criando o seu próprio “eu”, num exercício constante de desconstrução e reconstrução.
T.P. - Sei também que trabalham com livros e associam o ato de ler a algo divertido e vivo, com gestos, mímicas, vozes ... fazem isso nas vossas oficinas? Organizam estas atividades em escolas, trabalhando com professores e alunos de todas as idades? Quais são as reações dos mesmos a esse tipo de método expressivo e criativo de ler e ouvir livros e histórias? Com coisas simples como comida, objetos pode-se começar uma história bonita e interessante ... isso é feito com crianças, mas sei que também o fazem com pessoas mais velhas.
S.L. e A.L. - Basicamente, fazemos este trabalho criativo com crianças (a partir dos 3 anos) de forma a promover a criatividade e o bem-estar. Fazemos isso principalmente em escolas e livrarias. É um exercício de descoberta e estímulo à imaginação. Também fazemos o trabalho de descoberta de livros infantis com jovens e adultos / professores, no sentido de se libertarem e poderem trabalhar o imaginário e o irracional (criando histórias e trabalhos corporais, sobretudo voz, a partir de imagens).
T.P. - Qual é a vossa opinião sobre a arte? A arte pode ser terapêutica? De que maneiras? E arte inclusiva? Acham que o vosso projeto pode ser associado à arte inclusiva? Será este um projeto que promove a igualdade, para cada um se poder expressar sem medos?
S.L. e A.L. - A arte como a vivemos é sempre terapêutica porque permite crescer, descobrir novos recursos próprios e dos outros, questionar os nossos hábitos, interagir com os outros. Trabalhamos na escola primária pública de Roma, Itália, que acolhe crianças com necessidades especiais. As nossas oficinas são voltadas para todas as faixas etárias, portanto a inclusão é um dos nossos aspetos fundamentais.

Fotos: Teresa Pêgo (tiradas durante o curso Yellow com Segni Mossi, em Lisboa) #descobertacriativa#educaçãopelaarte#segnimossi
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