Natureza, um lugar para aprender
- tmpego
- 2 de fev. de 2021
- 3 min de leitura

Natureza, um sentir
Todos os dias procuro a natureza, mesmo que não possa estar no meio dela, nas suas entranhas, a sentir a seiva a percorrer as suas veias, com as mãos pousadas no corpo da terra. É uma envolvência calmante e inspiradora, possuidora de sabedorias antigas e de perfumes mornos. Desde pequena que sempre gostei de me misturar com a natureza, de sentir o cheiro da terra em dias de chuva e nas frias madrugadas. Depois, quis fotografá-la, pensando que conseguiria reter a emoção do momento daquele abraço, mas a arte era apenas uma impressão. Decidi que iria passar o máximo de tempo perto dela, próxima dos balbuciares vespertinos dos pássaros, dos humores do mar, dos murmúrios das folhas das árvores. Envolvi-me, então, com ela, nos seus caminhos e conheci gentes que a amavam profundamente, que tinham desenvolvido uma vontade de imergir nela de forma quase obsessiva. Quando se escolhia entrar nela, era difícil sair, porque aquele acolhimento era doce e envolvente como um abraço que não se almeja que acabe.
Desconstruir espaços de aprendizagem
Para além de criação de blogues, de realização de jornais e panfletos digitais, de tertúlias dentro e fora da sala, senti que seria interessante alterar um pouco o espaço, despenteá-lo um nadinha porque a vida decorria também na rua, no jardim, na loja do construtor de instrumentos musicais, por detrás da bancada de flores vibrantes da vendedora do mercado. À minha vontade juntaram-se outras. Então, houve um dia em que conversei com os formandos e lhes sugeri uma visita ao parque, ao que rapidamente aquiesceram. Convém reforçar que a maior parte destes formandos são jovens e muitos deles já adultos. Por vezes, chegava a ter grupos de pessoas com 18 anos misturadas com outras de 50, o que se tornava muito enriquecedor para todos os envolvidos. A aprendizagem era constante, devido à diferença geracional, porque cada um tinha a sua história para contar, de tempos que outros não conheciam porque ainda não nascidos. Rumámos para o parque maior que a nossa cidade tinha e ali treinámos, dispostos todos em círculo, aspetos ligados à Língua Portuguesa, usando uma bola, sentindo o aroma dos pinheiros, ouvindo as vozes das gaivotas e das garças que se intrometiam nas linhas dos nossos livros, curiosas. Bastava uma frase de um dos livros, que vinham a balançar no meio de outros livros e cadernos nas mochilas entreabertas, para se voar para temas impreparados, para caminhos cujo desenlace nunca se conhecia e o entusiasmo, sem dúvida, aumentava de forma gradual.
Ali, no meio da curiosidade das árvores, crescíamos mais um pouco, libertávamos o corpo e, consequentemente, a mente e a alma. Parecia que as palavras, de repente, tinham espaço para falar e então soltavam-se, alegres, por entre as nossas cabeças, o caminhar dos gansos, o marulhar das águas do lago, o grasnar dos patos. A sala, de súbito, era desconstruída e transformava-se num manto de relva fofa e morna onde se podia conversar entre risos altos e silêncios acompanhados. O coração acalmava, tudo o que poderia estar a conter cada um dos participantes, ali, dissipava-se.
Florescer na natureza
Muitos estudos comprovam precisamente os benefícios desta imersão na natureza. Há pouco tempo, li um texto precisamente sobre este assunto - Ecopsicologia. Referia-se às vantagens da proximidade entre a natureza e o ser humano, como por exemplo a redução dos níveis de stress, a elevação da autoestima, a melhoria do sistema imunitário e a redução da ansiedade. Por isso, considerei que seria bom trazer os formandos à natureza e aí aprender, porque na realidade também se adquire muito conhecimento em espaço aberto, até na observação demorada do voo das gaivotas por cima do lago. A criatividade pode surgir em qualquer lugar. Quando passeamos no meio das árvores, as ideias florescem, a criatividade brota e a vontade expressiva liberta-se. Não se está confinado entre muros, entre um espaço limitado. De repente, o corpo encontra espaço sem qualquer fronteira e a voz desprende-se. Facto é que também aqui, nestes espaços, a coesão grupal acentua-se mais, parece que os corpos se aproximam, pois não há barreiras, ruídos incómodos à passagem da palavra. Ali, a curiosidade mora na forma das pedras dos charcos, nas cores quase impossíveis das folhas outonais, no medo de algo que se desenrola em tranquilidade, porque não se está sozinho, porque se está dentro de uma pequena comunidade de pessoas que repentinamente se lembraram de um passado que cresceu. E, por isso, tudo flui como um rio, a aprendizagem acontece, aos poucos, e a vontade de voltar rumina nos peitos acesos e vivos, regados com a frescura de possibilidades suspensas.
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