top of page
  • Foto do escritortmpego

A Dança Consciente do Barro

Por debaixo de um sol coado de inverno, voltei a rever a minha amiga Carina Graça, que conheci no ano de 2017 durante a minha pós-graduação de Arte Terapia e Waking Dream Therapy, em Lisboa, promovido pelo Instituto CRIAP.



Os brilhos da água do rio tornavam a cidade de Tomar ainda mais luminosa. Um abraço para retomar conversa e as portas azuis da Fábrica das Artes a entreabrirem-se. Foi realmente um continuar de conversa com um espaço de 6 anos. Deixámos que as palavras e a curiosidade dançassem por entre as traves de madeira do espaço, que já data de 1912, e a Carina foi-me guiando naquele lugar, mostrando, no primeiro piso, as oficinas de artes tradicionais que estão ligadas à Festa dos Tabuleiros: a oficina da latoaria da artesão Otília Marques, a oficina da cestaria do artesão José Henriques, a oficina de olaria tradicional com o artesão Celestino Marques. Fomos subindo pelas escadas em madeira, lembrando a Festa dos Tabuleiros, a Festa do Espírito Santo e a Rainha Isabel de Aragão, padroeira da cidade de Coimbra.






No último piso, uma sala ampla, luminosa e acolhedora convidou-me a explorar cada canto, cada objeto, cada janela que se abria para o exterior e para o interior. À medida que ia visitando o lugar que me chamava, sentia no ar um odor quente a gengibre e a tomilho. Nas mesas, as peças moldadas pelas mãos de Carina espalhavam-se por ali, por entre os vasos de plantas verdejantes que se espalhavam pela sala. Não havia muitas peças, porque grande parte delas já estavam noutras casas, acolhidas pelas mãos e corações de outras pessoas.









O chá fumegante na mesa anunciou o início da conversa. Uma conversa com vagar, com vontade de explorar conceitos, de até desconstruir e voltar a construir, de refletir em conjunto. Acima de tudo, falámos da natureza, do pedaço de terra que se pode moldar por nós e que nos envolve no processo, entrando numa imersão transformadora. Percebi que o barro, para Carina, não é apenas um material que se molda, mas sim um transporte para uma viagem ao interior de quem lhe dá colo.








As palavras voavam no atelier, por entre as formas ondulantes dos potes ou das peças mais expansivas, e recordavam o pulsar do amor, da terra, do corpo, do ser, dessa dança despida na fronteira entre o silêncio da escuta e a expansão.
















55 visualizações0 comentário

Posts recentes

Ver tudo
bottom of page