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Esperançar

  • Foto do escritor: tmpego
    tmpego
  • 27 de jun. de 2021
  • 2 min de leitura



Sentada na relva do jardim, escrevo, rodeada de sombras ondulantes. No ar, uma brisa levemente perfumada, tendo como música de fundo o som do trinar contínuo dos passarinhos e um pontual besouro que decide rondar os arbustos que me servem de sombra. A relva massaja-me os pés e o sol aquece-me o corpo, nas intermitências das sombras. Os arbustos rangem às carícias inconstantes da brisa que, por vezes, se transforma em vento.


A natureza é refúgio, lugar de encontro connosco, lugar de encontro com o que está exterior a nós. Neste espaço, os sentidos despertam devagar e o olhar pode-se prender na dança das sombras dos arbustos refletidos na relva, porque este lugar não é mero objeto de decoro, é um espaço onde se pode estar e imergir, onde se pode trabalhar com foco, se assim se pretender.


Desde pequena que sempre tive a oportunidade de poder usufruir destes lugares em liberdade, mergulhando as mãos na areia morna da praia, depois de comer um ovo cozido, inventando novas receitas gourmet compostas de terra com folhas e pedrinhas de vários tamanhos e cores. Passava horas na natureza, a ouvir a água a correr, a explorar os seus murmúrios e conversas, a compreender os seus sinais e a procurar perceber esta contemplação silenciosa que é também um ato de comunicação comigo própria, porque trago esta memória impregnada na pele, acordada pelos sentidos, e posso voltar a ela quando me apetecer, mesmo que esteja rodeada de betão.


E como a natureza sempre caminhou ao meu lado, quis, depois, apresentá-la às pessoas de quem mais gostava, aos amigos e às pessoas com as quais me ia cruzando. Era um lugar de eleição para tanta coisa na vida, para passear, contemplar, partilhar risadas, leituras, conversas, pequenas refeições, para conhecer, aprender, meditar, amar… Um espaço que se nos abria diferente, porque havia sempre um arbusto que tinha crescido, uma flor a desabrochar, uma árvore que sorria de forma diferente. Ou será que éramos nós que encontrávamos aquele lugar diferente porque a nossa perspetiva ia mudando? De qualquer maneira, sempre achei que era um refúgio que me acolhia, e sabia que não era a única a senti-lo, pois adivinhava-o no olhar de um grupo de pessoas com as quais tinha a possibilidade de caminhar, uns de forma pontual, outros diariamente.


A teimosia da natureza faz-me esperançar diariamente, pois há sempre um florescimento que brota de um lugar que julgávamos estéril.

 
 
 

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